Por Elyane
Hauser
Ao entrarmos na vida terrena, pela passagem dolorosa do nascimento,
chegamos cheios de medos. Nossa primeira representação
de segurança vem do outro, nossa mãe. A ela nos agarramos, pois que dali vem
toda nossa saciedade, conforto, segurança e bem estar. Sentindo-nos inseguros e
abandonados se dela nos afastamos.
À medida que vamos crescendo, os horizontes se ampliando, já podemos nos
libertar deste cordão que nos ligava a esta primeira fonte de segurança,
começamos a explorar o mundo, estendemos nossas relações ao pai, irmãos e
demais membros da família. Cada um
deles tem uma enorme importância, permitindo o afloramento de nossas
imperfeições emocionais congênitas. Ali no seio da família, cada um de nós vai
se defrontando com situações e emoções que nos permitem reconhecer nossos
demônios; fatos que mais nos afetam, se repetindo, tirando nosso centramento,
estão sinalizando que ali estão, para nos oportunizar a cura deste sentimento, que nos perturba, faz mal ou, nos torna piores do que gostaríamos.
O apego, num primeiro momento, parece inofensivo aos outros ou, a nos
próprios mas, quando não trabalhamos este sentimento, ele pode tornar-se fonte
de profundas tristezas, mágoas nossas e, de outros. E por fim, o afastamento
dos seres que tanto desejamos prender.
Sabemos o quanto é difícil andar neste tênue fio, que nos separa de um
amor incondicional ao amor vindo do plexo solar, aquele que quer para si e, que
possuindo ao ponto de sufocar, não permite o crescimento
seu nem o do ser querido.
O apego veste roupagens reluzentes de paixão, amizade, coleguismo,
maternalidade amor filial.
Autores e compositores jamais se cansam de exaltar estes sentimentos,
usando as mais belas expressões de todas as línguas e idiomas.
Quem não se emociona ao ouvir lindas canções exaltando “o meu amor” que
espera receber de volta “o teu amor”.
Quem não chorou ao ler ou assistir na tela o imortal Romeu e Julieta de
Shakespeare? Sendo que ali está retratado o mais forte e poderoso apego. Tão
grande que culmina com a morte de ambos os personagens.
Quando não crescemos e abrimos
nossas asas para a vida, por temermos deixar para trás nossa família, estamos
nos tornando atrofiados emocionalmente e, com certeza, perderemos magníficas oportunidades
de crescimento espiritual e material.
Quando o apego é a nossa inferioridade, poderá ser mais fácil de curar,
pois ao entendermos o problema, bastará um esforço pessoal, para transpormos
este limitador de nossa vida.
Ao percebermos que sentir ciúmes dos outros não é o termômetro de
nosso amor mas, sinalizador de nossa insegurança
Ao aceitarmos o amor do outro, da forma que sabe manifestar, sem impormos
que ele nos ame como achamos ser o jeito certo, baseados na visão romanceada
pelas influências que recebemos. Culturais ou genéticas.
Se entendermos que o outro tem também suas limitações e dificuldades,
medos e inseguranças.
Ao compreendermos que o outro tem sua privacidade e, não tentarmos
invadi-la sistematicamente, como se fôramos soldados atacando uma cidadela,
para nos tornarmos donos e senhores de tudo o que ali se encontra. Achando
que se o outro tem segredos, estes a nos se referem e, conseqüentemente, está
nos traindo. Quando na realidade o outro apenas possui uma vida, complexa, rica
e com múltiplas vivências.
O nosso companheiro além de nos amar, tem inúmeros outros sentimentos,
pensamentos e comprometimentos.
Alem de nosso companheiro de jornada, é o profissional com todas as
implicações que isto lhe traz. É o amigo de seus amigos, tendo que muitas vezes
abster-se de mencionar fatos, que lhe foram confidenciados e, isto não
significa que em nós não confia.
Nosso amor, embora se sinta feliz ao nosso lado (quando o permitimos),
também se sente feliz, praticando atividades que aprecia e, que nem sempre
envolvem a nossa companhia.
A cura de nossos apegos se concretiza quando nos sentimos livres para
vivermos felizes todas as nossas experiências e, permitimos ao outro viver as
suas, para que ao nos encontrarmos, estejamos inteiros, ricos, plenos e
intensos.
Se o apego vem do outro, podemos ter uma tarefa mais difícil, uma vez que
correremos o risco de sermos considerados frios, egoístas e até destituídos de
amorosidade. Precisaremos então nos munir de muita compaixão e, compreensão com
a fragilidade do outro, mas mantermos a determinação de preservarmos a nossa
liberdade de sentir e, de conduzirmos a nossa caminhada evolutiva, nesta
encarnação.
Quando nos submetemos aos apegos do outro, acabamos por gerar um duplo
carma. O nosso, uma vez que passamos a viver de forma contrária ao nosso
sentimento. E no outro por alimentarmos uma fraqueza que veio para
curar.
Em última instância: curar, praticar o desapego e exercitar o amor que
liberta, verdade que faz crescer, generosidade que jamais espera retribuição ou
pagamento e, a confiança que nos permite acreditar que embora não sejamos
únicos e exclusivos seres na vida do outro, ocupamos um lugar de extrema
importância em seu coração.
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