"Tudo que é seu, encontrará uma forma de chegar até você." (Chico Xavier)


segunda-feira, 28 de maio de 2012

De Volta à Cena


Depois de quase três anos longe dos palcos para tratar uma leucemia, a atriz Drica Moraes conta como usou o silêncio, a música e a meditação para vencer o medo da morte e voltar renovada à vida. Mesmo após a reclusão, ela demonstra que o corpo continua forte em sua primeira aula de ioga pós-tratamento, feita especialmente para BONS FLUIDOS.

A atriz carioca Drica Moraes, de 42 anos, encarou há dois anos a situação mais difícil de sua vida: ficar to­talmente isolada durante 100 dias em um quarto de hospital. Em 2010, ela foi diagnosticada com um tipo bastante agressivo de leucemia - câncer que atinge a me­dula óssea e, consequentemente, o sistema imunológico. En­tre o diagnóstico e a cura, no final do ano passado, a atriz convi­veu intimamente com os medos mais viscerais do ser humano: a solidão e a proximidade da morte. Tudo entremeado de ses­sões de quimioterapia e de um transplante de medula, fato que a fez ficar totalmente refém de cuidados médicos.
Foi um período difícil. Seu filho adotivo, Mateus, tinha aca­bado de completar 1 ano quando ela foi internada pela primei­ra vez. Muito carinhosa e acostumada a brincar com o menino pelo chão, a atriz foi obrigada a passar meses sem nenhum tipo de contato físico nem mesmo com ele. "Senti muita falta de ser tocada", lembra Drica, que viu sua vida ficar em stand by para que pudesse se dedicar integralmente ao tratamento.
"Nesse momento, não adianta tentar lembrar como eram as coisas no passado, porque esse tempo já ficou para trás", en­sina. "E não dá para ficar pensando no que vai vir, pois o que tiver de vir só virá se você der um passo agora." Com foco no presente - afinal, a única coisa que ela tinha de fato -, Drica encontrou dentro de si mesma a paz de que tanto precisava: "Quando você está enfrentando a morte, como foi o meu caso, ou mesmo um problema do cotidiano, e se depara com um desafio muito grande, a melhor coisa é se voltar para o próprio interior e de lá tirar a força para transpor a dificuldade". Claro que esse mergulho na própria alma não acontece de uma hora para outra.
Para a atriz, ele é fruto de anos de meditação associada à prática da ioga. "Os exercícios respiratórios fazem uma ponte entre o corpo e a mente, gerando uma energia muito podero­sa", relata. "Essa consciência me deu o suporte emocional ne­cessário para atravessar o tratamento de uma forma inteira."

QUEM CANTA OS MALES ESPANTA
Some-se a isso um tempero dado pela fé nas suas mais diferen­tes manifestações. Sua reza diária inclui uma ave-maria, um pai-nosso, algumas repetições do mantra budista nam myoho rengue kyo e outras tantas do mantra indiano OM (som pri­mordial do Universo). "Invoco todo mundo junto: de Nossa Senhora Aparecida a todos os Pretos Velhos", diz. Outra dose de conforto veio do canto. Enquanto estava internada, sem poder conversar, interpretava sozinha versos de canções, espe­cialmente as gravadas por Maria Bethânia e Caetano Veloso, como urna forma de musicoterapia. "Eu cantava para me manter com foco no agora e não deixar a mente se perder em angustias", relata. "A única coisa que estava em movimento era meu mundo interno: o meu desejo de viver, de voltar para meu filho e minha família, e a minha espiritualidade."
Tamanho esforço e força de vontade resultaram em impor­tantes doses de paciência, serenidade e fé de que, no final, as coisas terminariam bem. O que de fato aconteceu. Em mar­ço, a atriz finalmente voltou aos palcos cariocas com a peça A Primeira Vista. Nem de longe ela parece uma pessoa em recu­peração. Em cena, Drica arranca risadas da platéia enquanto dança, canta, grita, beija e aborda a morte com serenidade.
Entre as grandes lições que considera ter aprendido, respei­tar os próprios limites, escutar a si mesma e ter uma relação menos ansiosa com o tempo está no topo de sua lista. "Não entro mais na neura de estar sempre correndo para agradar ao outro, para estar bem na foto, para cumprir algo que esperam de mim e que talvez eu mesma também exija de mim", asse­gura. "Sou humana. Ainda fico ansiosa, grito, berro, choro. Mas procuro me ouvir sempre. Depois de um mergulho no escuro, como esse que eu vivi, a gente sai com mais habilidade para encarar os medos do cotidiano", conta Drica, que faz aná­lise desde a juventude. "A análise me ajudou a ver na doença uma oportunidade de romper com padrões que me faziam mal e recomeçar ainda melhor."

Fonte: Revista Bons Fluidos Junho 2012 – nº159

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