Depois
de quase três anos longe dos palcos para tratar uma leucemia, a atriz Drica
Moraes conta como usou o silêncio, a música e a meditação para vencer o medo da
morte e voltar renovada à vida. Mesmo após a reclusão, ela demonstra que o
corpo continua forte em sua primeira aula de ioga pós-tratamento, feita
especialmente para BONS FLUIDOS.
A atriz carioca
Drica Moraes, de 42 anos, encarou há dois anos a situação mais difícil de sua
vida: ficar totalmente isolada durante 100 dias em um quarto de hospital. Em
2010, ela foi diagnosticada com um tipo bastante agressivo de leucemia - câncer
que atinge a medula óssea e, consequentemente, o sistema imunológico. Entre o
diagnóstico e a cura, no final do ano passado, a atriz conviveu intimamente
com os medos mais viscerais do ser humano: a solidão e a proximidade da morte.
Tudo entremeado de sessões de quimioterapia e de um transplante de medula,
fato que a fez ficar totalmente refém de cuidados médicos.
Foi um período
difícil. Seu filho adotivo, Mateus, tinha acabado de completar 1 ano quando
ela foi internada pela primeira vez. Muito carinhosa e acostumada a brincar com o menino pelo chão, a atriz foi obrigada a passar meses sem nenhum tipo de contato
físico nem mesmo com ele. "Senti muita falta de ser tocada", lembra Drica, que viu sua vida ficar em stand by para
que pudesse se dedicar integralmente ao tratamento.
"Nesse momento,
não adianta tentar lembrar como eram
as coisas no passado, porque esse tempo já ficou para trás", ensina.
"E não dá para ficar pensando no que vai vir, pois o que tiver de vir só
virá se você der um passo agora." Com foco no presente - afinal, a única
coisa que ela tinha de fato -, Drica encontrou dentro de si mesma a paz de que
tanto precisava: "Quando você está enfrentando a morte, como foi o meu
caso, ou mesmo um problema do cotidiano, e se depara com um desafio muito
grande, a melhor coisa é se voltar para o próprio interior e de lá tirar a
força para transpor a dificuldade". Claro que esse mergulho na própria
alma não acontece de uma hora para outra.
Para a atriz, ele é
fruto de anos de meditação associada à prática da ioga. "Os exercícios
respiratórios fazem uma ponte entre o corpo e a mente, gerando uma energia
muito poderosa", relata. "Essa consciência me deu o suporte
emocional necessário para atravessar o tratamento de uma forma inteira."
QUEM CANTA OS MALES
ESPANTA
Some-se a isso um
tempero dado pela fé nas suas mais diferentes manifestações. Sua reza diária
inclui uma ave-maria, um pai-nosso, algumas repetições do mantra budista nam
myoho rengue kyo e outras tantas do mantra indiano OM (som primordial do
Universo). "Invoco todo mundo junto: de Nossa Senhora Aparecida a todos os
Pretos Velhos", diz. Outra dose de conforto veio do canto. Enquanto estava
internada, sem poder conversar, interpretava sozinha versos de canções, especialmente
as gravadas por Maria Bethânia e Caetano Veloso, como urna forma de
musicoterapia. "Eu cantava para me manter com foco no agora e não deixar a
mente se perder em angustias", relata. "A única coisa que estava em
movimento era meu mundo interno: o meu desejo de viver, de voltar para meu
filho e minha família, e a minha espiritualidade."
Tamanho esforço e
força de vontade resultaram em importantes doses de paciência, serenidade e fé
de que, no final, as coisas terminariam bem. O que de fato aconteceu. Em março,
a atriz finalmente voltou aos palcos cariocas com a peça A Primeira Vista. Nem
de longe ela parece uma pessoa em recuperação. Em cena, Drica arranca risadas
da platéia enquanto dança, canta, grita, beija e aborda a morte com serenidade.
Entre as grandes lições que considera ter aprendido, respeitar
os próprios limites, escutar a si mesma e ter uma relação menos ansiosa com o
tempo está no topo de sua lista. "Não entro mais na neura de estar sempre
correndo para agradar ao outro, para estar bem na foto, para cumprir algo que
esperam de mim e que talvez eu mesma também exija de mim", assegura.
"Sou humana. Ainda fico ansiosa, grito, berro, choro. Mas procuro me ouvir
sempre. Depois de um mergulho no escuro, como esse que eu vivi, a gente sai com
mais habilidade para encarar os medos do cotidiano", conta Drica, que faz
análise desde a juventude. "A análise me ajudou a ver na doença uma
oportunidade de romper com padrões que me faziam mal e recomeçar ainda
melhor."
Fonte: Revista Bons Fluidos Junho 2012 – nº159
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